terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Fenômeno Religioso e os quadros mais amplos da teoria sociológica em Durkheim, Marx e Weber

Primeiro post. Ok, devia escrever algo sobre quem sou, o que gosto ou o que faço. Vida resumida na pequena janelinha do Blog dá pouca dimensão sobre quem escreve. Mas como não sei quem eu sou, como eu gosto e desgosto muito rápido e o que faço é de uma irrelevância sem tamanho vou falar sobre algo relevante: "o fenômeno religioso e as teorias sociológicas". Não pensem que é para causar boa impressão intelecutal, estou longe disso: sou medíocre, passo na média (quando passo) e rezo aos "deuses céticos" das Ciências Sociais desejosa de que a máxima "os grandes cientistas sociais foram péssimos alunos" seja verdade. Enfim, o texto deste post foi tirado de uma questão de prova em Sociologia das Religiões. Não vou falar quantos tirei..sabendo a nota vocês não lerão o texto! rs

Boa Leitura!



A relação entre o fenômeno religioso e os quadros mais amplos da teoria sociológica em Durkheim, Marx e Weber.



O fenômeno religioso foi abordado por Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber sob perspectivas diferentes e em diferentes intensidades. Enquanto Durkheim dedica uma obra inteira analisando a natureza religiosa do homem definindo a religião como base para fundação do pensamento humano; Weber se interessa pelo caráter cognoscitivo e racional do aspecto religioso; e Marx, apesar de pouco abordar a religião em seus estudos, trata-a em seu aspecto ideológico e de dupla face – ópio do povo e caráter revolucionário.

A Sociologia da Religião Durkheimiana possui uma dimensão da teoria do conhecimento. Para o autor, a religião é a responsável pela gênese do sistema de representação do homem, possibilitando a classificação e o nascimento da consciência coletiva fundando assim o mundo social.

Dessa forma, a ossatura da inteligência humana, aquele quadro sólido no qual se encerra o pensamento e se estruturam outros, é produto do pensamento religioso. Isso se dá quando, a partir da religião, se classifica o mundo das coisas em duas categorias elementares: o sagrado e o profano, formando, a partir delas, as bases para as representações coletivas.

Durkheim define a religião como um conjunto de crenças e práticas ao sagrado (coisas sagradas) aderidas por uma coletividade. Essa comunidade social se transfiguraria em uma comunidade moral formando um sistema homogêneo com característica de unidade. Para tanto, esse todo (conjunto) que se constitui a religião é formado de duas partes essenciais e inerentes a todo e qualquer fenômeno religioso, quais sejam: as crenças e os ritos.

As crenças religiosas são os estados da representação humana, campo simbólico no qual classificamos idéias e objetos em sagrado e profano, formando um campo moral que induz a formação de regras de condutas – ritos.

O sagrado exprime o social, enquanto o profano a consciência individual. O primeiro é sempre resguardado, pois possui um corpo de concepções ordenadoras, uma moral partilhada que conduz os ritos e as ações cotidianas e impõem sanções que incidem sobre as ações individuais proibidas - anomias (indivíduo querendo se impor sobre social). Assim, a religião possui todo o aspecto moral, social e as delimitações do que se pode e do que não se pode fazer, estabelecendo limites de condutas que resguardariam o mundo social. O aspecto da moral compartilhada pelos indivíduos faz da religião um elemento de coesão.

Compartilhando crenças e reforçando a moral através de rituais o indivíduo está reforçando a própria unidade social – o mundo sagrado; enquanto as atividades puramente individuais são direcionadas para o cotidiano - mundo profano. Para tanto Durkheim diz, ao analisar o totemismo, que o sagrado é a apoteose do social. O homem transportaria para o campo simbólico as próprias representações sociais, por isso a sociedade é algo imperativo sobre o indivíduo: é eficaz, causa dependência, impõe normas, domina a consciência e molda o indivíduo.

Diferente de Durkheim, que analisa a religião como algo eminentemente social, Weber analisa a fenômeno religioso a partir das categorias subjetivas tentando compreender as ações dos indivíduos na busca de um sentido racional destas nas atividades sociais.

Segundo Weber o indivíduo age conforme significa e significa conforme as experiências cotidianas. Por ser a cultura o elemento que dá sentido e significado às experiências ,mudando-a mudo a forma como racionalizo minhas ações.

Nesse sentido, Weber vê a religião em seu caráter intramundano, como forma racional de percepção e estruturação simbólica pelas quais os indivíduos direcionam suas ações e que, no decorrer das suas mudanças ao longo do processo histórico, levaram ao desencantamento e a secularização do mundo.

Para Weber a ação que leva um indivíduo a se associar num corpo religioso refere-se as respostas racionais que ele pode dar às angústias, aos sofrimentos e às condições de vida neste mundo. Estas respostas consistentes e os valores criados em torno da religião -formando um arcabouço ético pelo qual o indivíduo ordena e compreende sua vida - são frutos de outras ações racionais ou significações criadas por pessoas atuantes dentro das igrejas, como é o caso da estruturação das religiões de salvação: judaísmo, protestantismo, etc.

Diferente da magia as religiões éticas ou de salvação, notadamente o protestantismo, forneceram uma matriz religiosa que desencadeou no desencantamento e secularização do mundo, pois deram sentido cultural ao culto, à existência e a própria estratificação social (uma vez que essa estruturação era feita por agentes religiosos ou intelectuais). Enquanto a magia pertence ao domínio do utilitarismo, a religião enquanto dimensão cultural ordena e dá sentido às ações sociais.

Nesse processo de racionalização e igualmente de desencantamento, o cosmo também passa por significações e, a partir dele, justifica as diferenças reais. Dessa forma, a racionalização do sofrimento das classes ditas inferiores passa necessariamente pela legitimação e justificação da opulência das classes altas ou a idéia do caráter sacrossanto dos monarcas e figuras religiosas (WEBER, 1992: 353). As promessas de salvação alentariam o sofrimento e a racionalização teórica da religião (fruto de agentes) e serviram para ordenamento e entendimento das diferenças mundanas. Idéia de salvação, por exemplo, reflete no comportamento prático da vida (WEBER, 1992: 357).

Com a racionalização teórica da religião a magia e a feitiçaria perdem seu espaço e o mundo passa então por um processo de desencantamento, principalmente com o advento do calvinismo e do seu racionalismo intramundano. Essa mentalidade voltada para o mundo e o agir racionalizado próprio do protestantismo, aliado a conjuntura histórica, possibilitaram a secularização, a "transposição" da religião para o âmbito privado e a teórica laicização do Estado.

Já Marx vê na religião uma instância ideológica de conformação do mundo, um instrumento para manutenção da ordem social, o ópio do povo. Fazendo parte da superestrutura, a religião difundiria valores de uma classe dominante como valores universais colocando uma cortina de fumaça no antagonismo, na relação de dominação e de exploração de uma classe sobre a outra.

A religião manteria o homem alheio a sua condição real sendo ele próprio vítima de suas representações da realidade, obscurecendo as relações sociais tomando as aparentes como reais.

Além dessa justificação e escurecimento das relações sociais reais, a religião configura realidades imateriais, ou melhor, mundos para os quais o indivíduo transfere suas expectativas como se a realidade fosse de outra esfera (divina, cosmológica) quando ela é única e exclusivamente a criação cotidiana deste indivíduo, no qual a esperança só pode ser encontrada na mudança da estrutura da própria sociedade e não das configurações e vontades divinas.

No entanto, em contraposição ao caráter ideológico da religião, Marx e Engels reconhecem o caráter revolucionário que ela pode trazer. É na religião que muitos trabalhadores depositam suas forças e esperanças. Há também nas pregações religiosas, principalmente no cristianismo primitivo, o caráter libertador encontrado nos princípios socialistas.

Não só as pregações primevas do cristianismo denotam uma gênese revolucionária da religião. Dentro da instituição existem conflitos de idéias entre seus membros, como um antagonismo de classe que permite que certas posições da Igreja se voltem para a luta de classes no mundo social não-clerical, para a defesa dos pobres, contra a dominação e exploração da classe trabalhadora; ainda que essas posições sejam combatidas dentro das Igrejas elas resistem.

_______________

WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1999.

11 comentários:

Thaisa disse...

"geek dos idos tempos em que sê-lo era unfashionable!"

haha

p.s.dps leio seu texto...por ora, achei legal o unfashionable. =p

o etnógrafo disse...

Ei!!! ficou muito bom o blog...aff¬¬ até parece que sua nota foi tipo oito...usahsuahsuah
gostei bastante de sua (in)definição.
continue escrevendo...nos calouros agradecemos
;)

DANILO.

camila graham disse...

Orgulho... sempre modesta, mas sem ser falsa. Acho que vc sabe o que realmente é. Como nosso querido Dan pontou, também gostei da sua indefinição. E eu preocupada em me definir, oras bolas...
Com relação ao conteúdo, poucas vezes eu vi alguém com tamanha capacidade de ser tão clara e objetiva sem ser enfadonha, a qualidade do seu texto é indiscutível, o conteúdo se torna muito interessante mesmo que a primeira vista aparente ser chato.Só não te falo pra fazer jornalismo, porque...(cri cri cri)

Guel disse...

Excelente explicação!


*Apesar de serem suspeitos meus elogios sobre ti e a respeito do que fazes.

Andressa disse...

Lene tirou nota 1000!!!
Tanto nesta prova como em tudo o que se propõe a fazer, esta mulher é excelente.

o etnógrafo disse...

Lene o titulo que tinha elaborado para esse post na prim era: "Juliana Imai: Moda e Identidade nacional". E era essa idéia que queria passar mesmo, de uma experiência vivida onde a identidade e ressaltada(como no texto de Stuart Hall em que fala das culturas nacionais e comunidades imaginadas), mas para o leitor de blog de moda...não sei, me preocupo com isso as vezes se chamara atenção e tal(o titulo). Mas acabou por ficar decidido que no prim só postaremos algo que tenha relação direta com a internet.

Ruth Latour disse...

Eba, a "chatinha" mais querida da UFMT tem um blog! :P

Ana C disse...

Lindo quando se fala de algo que desperta interesse. Como diz o grande pensador CALVIN (in CALVIN AND HOBBES), as únicas coisas que tenho paciência para aprender são as que não tem aplicação direta na vida prática, como preparar um coquetel molotov por exemplo, se comunicar com ets.. Então o que digo é que ler seu texto foi como ler uma receita de Napalm ou aprender código Morse, parabéns por ter escrito tão bem. Vai defender sua mono vai!

o etnógrafo disse...

viu a humanoid tb adorei, não consigo parar de ver!
Arlene quero post novo,
tu podia postar seus fichamentos aqui, fazer um resumão, estava falando com ligia para fazer isso tb, mas ela já disse que não da, não tem tempo e tal...mas vc bem que podia, se não fizer vou falar com Carmem,
hahaha

:D

Espeto pissurno disse...

muito muito bom kkkkkk

Espeto pissurno disse...

me ajudou pacas msm